terça-feira, 10 de março de 2015

Asas do Desejo


Asas do Desejo
                                           Por Ana Lucia Gondim Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/
Desde a época que éramos bípedes da savana - nos lembram os anjos de Asas do Desejo – um ou outro de nós, quem sabe um grupo ou outro de nós, corria em zigue zague seguido por pedras atiradas de longe. Assim, pelo menos nos contam os anjos de Win Wenders (1987), as guerras costuram nossas histórias, fazendo-as comportarem respeitáveis doses  de destruição, de separações, de medos, de inseguranças, de desconfianças, de ódio e desalento. O vazio existencial, a solidão, a vulnerabilidade da condição humana e as imperfeições da vida que sabemos sustentar a guerra e a paz, nos atordoam e afligem. Nos confundem pensamento e roubam momentos de satisfação. Enquanto isso anjos passeiam entre nós, sem que os percebamos, testemunhando nossas dores, apoiando nossas cabeças caídas num momento de desesperança ou nos ajudando a suportar o peso dos ombros exaustos. Nesse contexto de tantas repetições e talvez poucas mudanças, no universo preto e branco de quem não sente o peso dos ossos e o cansaço do corpo, um anjo percebe-se encantado com o universo de quem, com tudo isso, espera o amanhã, se alegra num dia de domingo tranquilo, ama pessoas e com elas estabelece vínculos afeto que lhes aquece o coração. Se diverte no circo ou é trapezista que encanta o público que se deixa iludir confiando na leveza e na facilidade de voar do artista. Esquenta as mãos esfregando uma na outra, suspira de prazer tomando um chocolate quente numa tarde fria, faz filmes para contar histórias pros outros e escolhe roupas e chapéus para sair às ruas. Uma vida de colorido ímpar! Uma vida que vale experimentar, mesmo que o custo seja a consciência de que um dia acaba. Um anjo se joga para experimentar e Win Wenders nos presenteia com diálogos densos que, em muitos momentos, no faz recebe-los num fôlego só. Um filme que fala sobre o peso da existência humana em forma de poesia, que é como podemos dar conta dele.

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